AONDE ISSO VAI PARAR?

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A edição de segunda (2/10) da Folha de S.Paulo trouxe o artigo Atrás das cortinas no teatro do etanol, de Maria Aparecida de Moraes Silva, com dados impressionantes sobre impacto da cultura canavieira no Estado de São Paulo, este supostamente o mais "desenvolvido" do país.
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De acordo com Moraes Silva, doutora em sociologia pela Universidade de Paris 1 (França) e livre-docente pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), a tese de que a produção de alimentos não é afetada pela expansão da cultura canavieira contradiz os "dados oficiais do Instituto de Economia Agrícola, que apontam para a diminuição das áreas de 32 produtos agrícolas, dentre eles: arroz (10%), feijão (13%), milho (11%), batata (14%), mandioca (3%), algodão (40%) e tomate (12%), sem contar a redução de mais de 1 milhão de bovinos e a queda da produção de leite no período 2006-2007".
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No que diz respeito à condição de trabalho no corte da cana, a situação é ainda mais dramática. Os trabalhadores são "submetidos a duro controle durante a jornada de trabalho. São obrigados a cortar em torno de dez toneladas de cana por dia. Caso contrário", afirma Moares Silva, "podem: perder o emprego no final do mês, ser suspensos, ficar de 'gancho' por ordem dos feitores (sic) ou, ainda, ser submetidos à coação moral, chamados de 'facão de borracha', 'borrados', fracos, vagabundos".
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E mais: "Durante o trabalho, são acometidos pela sudorese em virtude das altas temperaturas e do excessivo esforço, pois, para cada tonelada de cana, [os trabalhadores] são obrigados a desferir mil golpes de facão. Muitos sofrem a 'birola', as dores provocadas por câimbras".
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Logo, a "depredação da saúde" destes trabalhadores não é obra do acaso: "desgaste da coluna vertebral, tendinite nos braços e mãos em razão dos esforços repetitivos, doenças nas vias respiratórias causadas pela fuligem da cana, deformações nos pés em razão do uso dos 'sapatões' e encurtamento das cordas vocais devido à postura curvada do pescoço durante o trabalho".
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Com salários pagos por produção (R$ 2,50 por tonelada), a "resposta a qualquer tipo de resistência ou greve é a dispensa".
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Eis as consequências desse sistema de exploração-dominação, relacionadas por Maria Aparecida de Moraes Silva:
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"- de 2004 a 2007, ocorreram 21 mortes, supostamente por excesso de esforço durante o trabalho, objeto de investigação do Ministério Público;
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- minhas pesquisas em nível qualitativo na macrorregião de Ribeirão Preto apontam que a vida útil de um cortador de cana é inferior a 15 anos, nível abaixo dos negros em alguns períodos da escravidão".
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Como resultado, no período de 1999 a 2005 já foram registrados 72 óbitos de trabalhadores no corte da cana no Estado mais "desenvolvido" da nação.
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E quem acha que isso é um problema lá das bandas da "macrorregião de Ribeirão", não sabe do que se passa em Monte Aprazível, Olímpia, Potirendaba, Catanduva... Aliás, as fuligens nos quintais e os treminhões na Washignton Luís anunciam mesmo a proximidade da tragédia.
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Mas o pior de tudo é ver tanta gente tratando usineiro como "herói nacional"...
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Aonde isso vai parar?
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> LEIA O ARTIGO NA ÍNTEGRA: ATRÁS DAS CORTINAS NO TEATRO DO ETANOL.
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EM TEMPO - Em Cajobi (60 Km de Rio Preto), foram encontradas centenas de abelhas mortas por envenenamento. Apicultores acreditam que a intoxicação tenha sido promovida pelos defensivos aplicados na "agricultura de propriedades vizinhas ao apiário", segundo as palavras do TEM Notícias de ontem (2ª edição). Caucula-se que quase 2 toneladas de mel tenham sido contaminadas. As amostras coletadas serão enviadas à UFSCar. O Ministério Público já investiga o caso. Detalhe: Cajobi fica entre Severínia e Olímpia, isto é, entre dois pólos da cultura canaveira na região. E a TV TEM não disse nada... talvez porque a Usina Guarani (Olímpia) seja um de seus principais anunciantes. Aonde isso vai parar?