A ELITE E O GOLPE DE 1964


Ainda sobre o apoio da elite local ao Golpe Militar de 1964, diz o Dicionário Rio-pretense:

"No dia 4/4/1964 [quatro dias após o Golpe], a Câmara Municipal cassou o mandato dos vereadores Armando Casseb, Benedito Rodrigues Lisboa e José Eduardo do Espírito Santo sob a acusação de serem comunistas confessos. A votação da cassação foi unânime. Dias depois, era realizada, sob organização da Associação Comercial, Rotary Club, Lions Club, Acifer e Rádio Independência, a campanha 'Ouro para o bem do Brasil'. Mas a campanha não sutiu o efeito esperado pelos organizadores e, no dia 3/6, Waldemar Verdi anunciava que a quantia arrecadada não era condizente com a 'posição de nossa cidade'. A exemplo das demais cidades brasileiras, também em Rio Preto foi organizada a 'Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade'" (ARANTES, 2002, p. 81).

A passagem acima permite concluir que o rótulo de "comunista" justificava qualquer coisa naquela época. O próprio Golpe Militar foi saudado como uma "Revolução" em favor da democracia, pretendendo resguardá-la da eminente "ameaça comunista". Na verdade, os comunistas brasileiros jamais estiveram perto de assumir o poder; nem em 1964, nem em 1935; nunca! Portanto, a alegada "ameaça comunista" não passou de argumentação retórica, sendo empregada à esmo contra qualquer esboço de oposição ao novo regime.

Armado Casseb (1929), por exemplo, nunca foi comunista. Afinal, como poderia um vereador e "comunista confesso" disputar as eleições seguintes pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido do regime militar? Casseb concorreu à uma vaga de vereador em 1968 pela ARENA, tornando-se, inclusive, presidente do Legislativo Municipal no auge da repressão promivida pela ditadura (1971-1972). Logo, o ato de "rotular" Armando Casseb como "comunista" deve ser visto como mais um dos absurdos produzidos durante o regime militar.

Depois, o Dicionário também confirma o caráter meramente simbólico da campanha "Ouro para o bem do Brasil". Conforme mencionado em post anterior (28/9), tal campanha visava apenas "soldar" uma nova unidade nacional e não propriamente arrecadar ouro, menos ainda para o "bem do Brasil". Daí a decepção com o montante arrecadado, demonstrada por alguns atores da elite local verdadeiramente empenhados em agradar a ditadura.

Para ser ter uma idéia, dez dias antes do Golpe (21/3/1964), Waldemar de Oliveira Verdi (1918), então presdiente da Associação Comercial, patrocionou a vinda de Carlos Lacerda, então Governador do Estado da Guanabara, principal líder da oposição à João Goulart e um dos mais ardorosos defensores da intervenção militar. Mais tarde, Lacerda também seria vitimado pela ditadura estabelecida. Para Verdi, no entanto, Lacerda era um dos mais "intransigentes defensores de nosso regime democrático"(Ibidem).

Por fim, o trecho extraído do Dicionário Rio-pretense atesta o posicionamento da elite da cidade em favor do regime militar, desde a embrionária "Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade".

Mas alguém ainda duvidava disso?