ISSO NÃO CHEIRA BEM...


Deu no Diário da última quinta (4/10): "Leão Leão ameaça ir à Justiça para não pagar multa". A cobrança se refere à utilização ilegal, por parte da empresa, de área da Prefeitura de Rio Preto para aterro de lixo. "O valor da multa pode chegar a R$ 14,2 mil", diz a matéria.

Como assim, "pode chegar"? Teria o jornal publicado tal notícia com base numa informação imprecisa, não confirmada?

Sim, caro leitor; porém, o problema não se deve a qualquer desvio jornalístico no trato das fontes. Ocorre que a cidade inteira desconhece o valor da multa aplicada pela Cetesb à Leão Leão.

Diz a edição do dia anterior, após a manchete "Cetesb esconde o valor da multa aplicada à Leão Leão":

"O gerente regional da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) de Rio Preto, Luiz Roberto Neme, escondeu o valor da multa aplicada à empresa Leão Leão por uso de área sem licença ambiental para manuseio de lixo. Neme se limitou a dizer que o valor máximo da punição valor da multa “pode” chegar a R$ 14,2 mil por dia e será cobrada enquanto persistir a irregularidade".

De acordo com o jornal, Neme "só vai divulgar o valor da autuação após a Leão Leão receber a multa na sua sede em Ribeirão Preto".

Nas palavras do gerente regional da Cestesb:"Tenho o valor da multa, mas ele não será divulgado. A notificação está indo via Correio à sede da empresa em Ribeirão Preto. A partir do recebimento da correspondência posso dar publicidade ao valor da multa", teria dito Neme à reportagem.

Estranha a postura do gerente da Cetesb em preservar a empresa. Estranha e reincidente.

No dia 14/9 ("Cetesb permite depósito de lixo sem licença"), o mesmo Diário já denunciava a omissão do órgão estadual em relação ao uso irregular da área para aterro de lixo. Na oportunidade, Neme aguardava pacientemente que a Leão Leão, espontaneamente, tomasse as próvidências cabíveis.

O gerente regional da Cetesb estipulou o prazo de uma semana para a empresa regularizar a situação, conforme registrou a edição de 15/9 ("Leão Leão tem uma semana para desocupar aterro ilegal").

Somente na semana passada Neme, enfim, notificou a Leão Leão; isto é, cerca de 20 dias após a primeira publicação no Diário sobre a irregularidade ambiental cometida pela empresa.

Mas não é só isso... Nesse pequeno mundo de insistentes coincidências em que se converteu a coleta de lixo em Rio Preto, poucos notaram a mais importante delas: a empresa escolhida no recente processo licitatório é a mesma que fora chamada às pressas para limpar o rastro de sujeira deixado pela Constroeste, atinga concessionária.

A Leão Leão cobrou R$ 1, 4 milhão/mês para o serviço emergencial, sendo contratada sem licitação pela Prefeitura de Rio Preto.

Contudo, na concorrência pública a empresa com sede em Ribeirão Preto apresentou o menor valor dentre as participantes; aliás, a diferença entre as propostas era realmente gritante.

Diz o Diário de 1/9 ("Leão Leão vence com proposta de R$ 61,2 milhões"): "A Delta Construções, que também já atua em Rio Preto, na construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), ofertou R$ 72 milhões para a execução dos serviços de limpeza urbana. Já as empresas Ecopav e Construtora Gomes Lourenço apresentaram propostas financeiras de R$ 74 milhões e R$ 77,9 milhões, respectivamente".

Considerando que o "valor global da licitação era de R$ 82,3 milhões", os R$ 61,2 milhões propostos pela Leão Leão ficaram bem abaixo dos demais orçamentos: aproximadamente R$ 10 milhões a menos que a 2ª menor proposta (R$ 72 milhões) e mais de R$ 15 milhões a menos que a maior (R$ 77,9 milhões).

E, ao observar os três outros orçamentos, é lícito supor que o "valor de mercado" para uma licitação de R$ 82,3 milhões esteja na faixa dos R$ 70 milhões. Sendo assim, como a Leão Leão conseguiu um preço tão baixo?

Pior: como a Prefeitura acatou a proposta de uma empresa que, hoje, admite com todas as letras não ter condições de "operar" na cidade?

Veja o que disse Flávio Catalano, assessor da Leão Leão, justificando o recurso à justiça para o pagamento da multa aplicada - tardiamente - pela Cetesb de Rio Preto: "Não temos como operar em outro local" (4/10). Em outras palavras, a vencedora da licitação da coleta de lixo em Rio Preto não tem onde colocar o que recolhe nas ruas e, por isso, utiliza um terreno da Prefeitura (está sendo cobrado aluguel ou é permuta?) sem a licença ambiental da Cetesb!

Em qualquer lugar do mundo, isso seria caso de polícia, no mínimo de intervenção dos poderes públicos (Exceutivo, Legislativo e Judiciário); mas não em Rio Preto. É mais uma obra do governo Edinho Araújo (PPS)! Só falta a placa.

Detalhe: o contrato da Leão Leão é válido por 5 anos.

Isso não cheira bem...

EM TEMPO - Estranho também que quase nada tenha sido dito sobre o histórico de problemas da empresa ribeirãopretana. Como se sabe, a Leão Leão é acusada de oferecer propina em troca de licitações em Ribeirão Preto; tem até ex-ministro envolvido na trama. No entanto, a Leão Leão chegou num instante caótico e, talvez por isso, foi vista por muitos em Rio Preto como uma espécie de "salvadora da pátria". Seria outra ingênua coincidência? Estranho...