MACENO: DE BAIRRO DO CEMITÉRIO VELHO À QUASE VILA SEIXAS
Bairro do Cemitério Velho. Assim era conhecida a Vila Maceno, até o prefeito Cenobelino de Barros Serra sancionar, no último dia de 1928, a lei (683/28) que alterou a denoiminação do bairro.
A lei de Cenobelino dizia o seguinte: "O bairro Cemitério Velho passa a denominar-se 'Villa Maceno', isto em recordação do seu primeiro habitante, o capitão João Maceno, um dos nomes bem merecedores de Rio Preto".
Como se nota, a homenagem ao capitão fazia jus aos primóridos deste sertão de Iboruna, onde respeito e terras eram conquistados pela autoridade da bala. Daí João Maceno ser "um dos nomes bem merecedores de Rio Preto".
Pois bem, a antiga denominação do bairro - habitado desde finais do século 19 -, claro, se devia ao funcionamento daquele que fora o segundo cemitério da cidade. O primeiro, Cemitério da Fábrica, era no mesmo local do atual Fórum (entre as ruas Marechal Deodoro, Voluntários de São Paulo, Delegado de Toledo e Bernardino de Campos) e foi desativado por volta de 1900.
Oficialmente, se alegou, ainda em 1895, que o Cemitério da Fábrica estava "muito próximo da vila em local prejudicial à saúde da população". Porém, parece evidente que a intenção era retirar a necrópole da área central da cidade, transferindo-a para uma região ainda pouco habitada; numa palavra, para a periferia.
A comissão de cidadãos responsável por encontrar um local "apropriado" - leia-se: distante do centro, mas não muito - para o novo cemitério, indicou uma área dentro do patrimônio de Nossa Senhora do Carmo, hoje, parte da Boa Vista.
Contudo, em 1896, João Bernardino de Seixas Ribeiro, fundador de Rio Preto (ver post de 31/01), fez uma doação de terras para a instalação do novo cemitério, na Maceno. O problema era a ligação com o bairro, uma vez que não havia ponte sobre o rio Preto, apenas algumas "pinguelas".
Em 1900, finalmente a Câmara decidiu pela área de João Bernardino e determinou que todo cadáver fosse sepultado no novo cemitério - sim, porque era hábito as pessoas enterrarem seus entes nos próprios quintais, clandestinamente, evitando assim o pagamento de taxas e tributos.
O novo cemitério foi instalado onde hoje está a Praça Ugolino Ugolini, defronte à igreja da Maceno.
Mas se o cemitério era novo, por que então o bairro ficou conhecido como Cemitério Velho?
Simples. O declive do terreno jogava as águas de chuvas no rio Preto. Com isso, o cemitério foi condenado já 1907, apenas 7 anos após sua implantação.
Com planta elaborada por Ugolino Ugolini, ainda em 1910, o terceiro cemitério da cidade teve suas obras iniciadas em 1921. No início dos anos 20, o Cemitério da Ressurreição, na Vila Ercília - também "periferia" na época -, passou a receber os sepultamentos da cidade.
Assim, o cemitério da Ercília ficou conhecido como Cemitério Novo, em constraste ao condenado Cemitério Velho, da Maceno.
Até 1943, o Cemitério Velho abrigou restos mortais - inclusive do engenheiro Ugolini -, transferidos então para o Cemitério Novo, onde se encontram até os dias de hoje.
Outra passagem interessante na história da Vila Maceno ocorreu na década de 1950.
O então vereador Alberto Andaló apresentou projeto de lei (65/50) alterando a denominação do bairro para Vila Seixas. Na verdade, Andaló queria agraciar a família do fundador João Bernardino de Seixas Ribeiro.
Os moradores da Maceno protestaram contra o projeto de Andaló e protagonizaram uma forte reação popular. Como se vê ainda hoje, após a onda de protestos dos moradores, o plenário da Câmara rejeitou o projeto, mas criou um "jeitinho" de agradar a família do fundador...
Não é a toa, portanto, que hoje o bairro ao lado da Maceno seja o arborizado e suntuoso Jardim dos Seixas.
E para os que não confiam no poder da mobilização popular, que fique registrado aqui o exemplo dos moradores da Maceno.
Fonte: ARANTES, L. Dicionário Rio-pretense. 2ª ed., 2002, p. 66-67; 172.