"ELES BANCAM O HEZBOLLAH"
Segue abaixo texto sobre os libaneses de Rio Preto e o Hezbollah, escrito em agosto de 2006.
Boa leitura.
O Bom Dia de ontem (05/08) trouxe matéria sobre as "300 famílias libanesas que residem em Rio Preto" e contribuem "financeiramente para o Hezbollah, mistura de partido político libanês com milícia xiita armada". Segundo o jornal, são enviados cerca de R$ 40 mil por mês.
O que chama atenção, no entanto, é a lembrança contida na reportagem: "Estima-se que 10% da população da cidade, cerca de 40 mil habitantes, seja formada por libaneses ou descendentes".
Como se sabe, os libaneses foram e são cruciais para o desenvolvimento econômico e cultural de Rio Preto. Eles estão em toda parte: no coméricio, na medicina, nas letras, no direito, no jornalismo, na ciências biológicas, na arte, na educação, no lazer...
Portanto, mais que discutir o gesto em si - financiar um partido-milícia no Líbano -, ou mesmo discutir se a resistência armada é um meio válido para se contrapor à ofensiva israelense e norte-americana no Oriente Médio, resta saber até que ponto esse considerável contingente de riopretenses transfere uma concepção política orientalista para a cultura política da cidade.
Aliás, a aproximação dos libaneses de Rio Preto - imigrantes e/ou descendentes - com a resistência armada do Hezbollah apesenta dois problemas.
Primeiro, o orientalismo, que sustenta noções teológicas, muitas vezes definindo a política como "arte da guerra", e consagra a insurreição armada como fundamento para a ação política.
Depois, um certo atni-imperialismo, no rechaço aos EUA - e mais especificamente à Israel -, facilmente confundido com um comportamento "de esquerda", revelando, no fundo, traços de um nacionalismo febril.
E ambos os problemas apontam para outro. Nos dois casos, orientalismo e anti-imperialismo, costuma prevalecer a razão mais fraca quando se trata de valores democráticos. Surge então uma concepção instrumental, "tática", resultando numa desvalorização dos procedimentos democráticos.
Assim, imaginar que uma noção orientalista, anti-imperialista, é difundida por médicos, empresários, religiosos, enfim, por 300 famílias - com financiamento - ou 10% da cidade - através de valores, opiniões, comportamentos -, é algo que deveria motivar um debate mais abrangente sobre a cultura política riopretense.
Exatamente o que não se vê até o momento.