AINDA SOBRE O CARNAVAL...
Convém retomar o que disse Humberto Sinibaldi ao Bom Dia de 19/2: "Hoje, as escolas [de samba] contam exclusivamente com a verba municipal. Se o Festival Internacional de Teatro fosse assim, não teria tanto prestígio. Faltam líderes no setor, como Nelson Batata".
Duas observações. Primeiro, como dizia o sábio, "uma coisa é uma coisa... outra coisa é outra coisa".
O respeitado produtor cultural, que, em vida, cede seu nome ao Teatro Municipal, erra de modo grosseiro ao tentar equiparar o Carnaval popular de Rio Preto ao Festival Internacional de Teatro (FIT).
São eventos totalmente distintos e assim são encarados, tanto pelo poder público como pela iniciativa privada.
Talvez por conveniência, Sinibaldi desconsidera a importância relegada pela elite da cidade ao evento "internacional" de Teatro. Vaidosa, órfã dos grandes centros, a fina flor de Rio Preto sempre reservou às artes cênicas, ao teatro, espaço privilegiado em suas agendas cultural e - mais importante - financeira.
Daí a cidade dispôr de um bom teatro, bons atores e grupos teatrais. De certo modo, sempre houve estímulo aos agentes culturais, ao teatro, porque isso interessava e contemplava uma parcela significativa da elite econômica de Rio Preto.
O Carnaval de rua, ao contrário, não desperta interesse algum nos setores dispostos a investir em cultura. Afinal, a elite já dipõe de seus salões nos clubes. Então, por que raios ela deveria se ocupar com a organização - e financiamento - do Carnaval popular?
Realmente, sob a lógica do custo-benefício, tal comportamento elitista só pode mesmo sustentar que o "Carnaval de rua de Rio Preto acabou faz tempo. Não adianta gastar dinheiro", conforme também declarou Sinibaldi ao Bom Dia.
O problema não é a elite pensar assim... O problema se dá quando o poder público assume tal postura. E isso está acontecendo.
A segunda observação diz respeito à eloqüência de Sinibaldi quando se refere ao FIT.
Motivo de orgulho para Sinibaldi - e toda elite riopretense -, o FIT é uma das criações de Edinho Araújo (PPS). Valendo-se do know-how da cidade-sede dos festivais nacionais de teatro amador, o Festival se tornou Internacional porque Edinho praticamente entregou ao SESC - leia-se pool de empresas - a organização (e boa parte dos lucros) do evento.
Numa palavra, o FIT representou certa privatização do antigo festival nacional. E mais: o FIT, ao privilegiar companhias e atores de fora, também contribuiu para esfacelar o teatro amador da cidade.
Pode-se dizer que os organizadores do FIT garantiram a presença dos grupos da cidade, transformando seus membros em guias turísticos. Enfim, de um orçamento enorme, ao teatro local restam apenas as migalhas.
Ainda bem que atores e produtores riopretenses de bom senso romperam as amarras com a submissa FETARP (Federação de Teatro Amador de Rio Preto) e criaram recentemente a ASSOCIART, entidade mais dinâmica e arejada que a de Dinho.
Resumindo, o FIT não é assim nenhuma "Brastemp". Tampouco a inclusão da iniciativa privada no Festival representou acréscimo à qualidade dos grupos locais; ao contrário, as companhias é que tiveram de se adequar à "nova ordem".
Portanto, não equiparar realidades distintas já seria um bom começo para o sério debate a ser travado sobre o Carnaval popular em Rio Preto. E continua...