O PEDÁGIO DE FELICIANO
Poucos sabem, mas Feliciano Salles Cunha - tido por muitos como mito do empreenderorismo neste sertão de Iboruna - já foi alvo de um processo de "expropriação".
Hoje nome de avenida, rodovia, Feliciano Salles Cunha, ainda no final dos anos 10 do século passado, abriu estradas e criou uma empresa de transporte coletivo, numa época em que jardineiras improvisadas em carrocerias dos caminhões Ford podiam ser tomadas como transporte coletivo. Ao lado de Laurentino Arroyo, além das passagens, Feliciano também cobrava pedágios dos que passavam por "suas" estradas nos fordinhos pé de bode.
Osvaldo Tonello recorda que "não era permitido o trânsito de carroças e carros de boi nessas estradas, sendo impedidos com cerca de arame farpado, que ele [Feliciano Salles Cunha] também construia" (São José do Rio Preto - Memórias, 2006, p. 133).
E assim - abrindo estradas, explorando o transporte coletivo e o pedágio -, a Companhia Melhoramentos prosperou.
De acordo com Aristides Coelho Neto, nos idos de 1926, da "garagem da Melhoramentos, seguiam em todas as direções, além das jardineiras, automóveis-lotação e até tratores. Eram mais de 180 jardineiras, 50 automóveis e cinco tratores" (Rio Preto - Na Rota dos Asteróides, 2000, p.17).
Importante lembrar que, em 1926, já com a estação ferroviária (1912), Rio Preto era o fim da linha da EFA (Estação de Ferro Araraquarense). Para seguir em frente, ir até Mirassol, por exemplo, somente nas jardineiras de Feliciano.
E foi justamente com a instalação e exploração de um pedágio - na verdade, uma porteira - no trecho Rio Preto-Mirassol (hoje, avenida dos Estudantes), que, aos olhos do povoda época, Feliciano passou de empreendedor a mercenário.
Certamente havia quem achasse muito justo pagar pela passagem, afinal, o que então era uma estrada de terra batida, transitável, antes não passava de uma trilha aberta a facão na condução da boiada.
Mas se Feliciano já explorava o transporte coletivo, também seria correto pensar que as melhorias nas estradas seriam investimento para o tráfego de suas próprias jardineiras e automóveis. Ou não?
Pois bem, no início dos anos 30, na esteira das mudanças nacionais, com apoio da população, o pedágio entre Rio Preto e Mirassol foi fechado pelo poder público e a porteira, enfim, foi aberta...
A iniciativa privada de Feliciano Sales Cunha, "suas" estradas, foram "expropriadas" em benefício dos populares e "apropriadas" pelo poder público.
O nome do benfeitor?
Sinésio de Oliveira Melo.
Seria o alvorecer do populismo em Iboruna?