A suspeita de "grampo" num dos telefones do gabinete do vereador João Paulo Rillo (PT), suscitada na última sexta-feira, deve ser investigada de maneira rigorosa pelos órgãos competentes.
Caso contrário, a credibilidade de todas as instituições - direta e/ou indiretamente - envolvidas sofrerá estrondoso abalo, algo sem precedentes.
Para compreender melhor o caso, convém revisar cada passo da ocorrência.
No final da manhã de sexta, ao tentar fazer uma ligação do telefone de seu gabinete, o vereador João Paulo Rillo notou que a linha estava ocupada e que não era por uma outra ligação. Isso porque, segundo Rillo, era possível ouvir outras vozes, como se fosse mesmo uma reunião.
Imediatamente o vereador chamou para testemunhar o fato todos os que estavam no prédio da Câmara naquele momento. Muitos ouviram a conversa que se desenrolava do outro lado da linha, inclusive o diretor-geral da Casa, João Batista da Silva, e alguns jornalistas.
Todas as testemunhas concordaram que se tratava de uma reunião no gabinete do secretário de governo, Jair Moretti, sobre o polêmico projeto de 100% de gratificação a um grupo - seleto - de servidores (ver post de 25/01).
A polícia foi chamada e técnicos das empresas de telefonia prestadoras de serviços à Câmara passaram o período da tarde examinando a instalação do prédio do Legislativo, no entanto, sem encontrar qualquer irregularidade aparente.
Isso foi suficiente para que o delegado Rubens Cardoso (1° DP), em entrevista exibida pela TV TEM no mesmo dia, declarasse ser a chuva a principal suspeita de ter ocasionado o que chamou de "linha cruzada", elencando, para tanto, um série de detalhes técnicos. Outra hipótese do delegado é a de que "alguém pode ter deixado telefone viva-voz ligado e a conversa foi captada", conforme traz o Bom Dia. Ou seja, para o delegado, está descartada a possibilidade de "grampo".
Mas a intenção de encerrar "tecnicamente" o caso cai por terra quando se observa mais atentamente os fatos. De acordo com os técnicos, a "linha cruzada" ocorre quando uma ligação "invade" outra, o que não se aplica, uma vez que o vereador sequer realizou sua ligação e o secretário de governo, segundo consta, também não estava ao telefone.
A segunda hipótese do delegado seria válida se o secretário de governo tivesse ligado para o gabinete de Rillo, falado no viva-voz e, encerrada a conversa, se esquecido de desligar o aparelho, ou vice-versa, o que também não aconteceu.
Porém, parece inquestionável que o viva-voz do gabinete de Moretti estava ligado e esse é o ponto principal, porque envolve e compromete não apenas o secretário, mas todo o poder executivo.
Aliás, cabe mencionar o desencontro e a apreensão dos governistas com o episódio. O presidente da Câmara, Adney Secches (PR), reuniu-se apressadamente a portas fechadas com seus pares - conforme as imagens da TV TEM - para ao final decidir pelo registro de um boletim de ocorrência. Por sua vez, Jair Moretti caiu em contradição antes de ir ao ar comentar o caso, também pela TV TEM.
Vale a pena reproduzir o que diz a reportagem de ontem do Bom Dia: "O secretário de Governo, Jair Moretti, caiu em contradição ao comentar conversas suas que foram captadas na Câmara. Ele chegou a negar que estava reunido com integrantes da prefeitura na hora que as conversas foram ouvidas, entre 12h30 e 1h10. 'Estava no estacionamento da prefeitura', chegou a afirmar o secretário".
Na TV Moretti se disse "surpreso" e "preocupado", pois como seria possível alguém na Câmara ouvir uma reunião em seu gabinete, questionou o secretário. Tal declaração foi a chave para que a história passasse a ser narrada segundo a "versão oficial".
Na página da TV TEM já consta o seguinte: "O presidente da Câmara de Rio Preto pediu à polícia que investigue como um vereador teria conseguido ouvir, pelo telefone, detalhes de uma reunião, que teria tido a participação de um secretário de governo".
Ora, quem foi a vítima? O Moretti?
A investigação não deveria indagar "como o vereador teria conseguido ouvir uma reunião na secretaria de governo". Ao contrário, todos deveriam se perguntar como o viva-voz de Moretti pode ter ligação direta com o telefone do vereador mais combativo da Câmara. Será que a ingerência do executivo na Câmara, tão latente na atual legislatura, teria chegado a tal nível?
Outra dúvida. Se Moretti estivesse em silêncio, mesmo com o viva-voz ligado, teria ouvido a conversa de Rillo, certo? Caso isso tivesse ocorido, será que a esta hora as redações saberiam de alguma coisa?
Portanto, a investigação sobre o caso deve ser transparente e concluída no tempo que se fizer necessário. Por enquanto, cumpre exigir das instituições envolvidas a apuração dos fatos e, sobretudo, repostas certas para as perguntas certas.
Foto: Hélio Tuzi/Diarioweb