CASO DE POLÍCIA OU MOTIVO DE CHACOTA?


O Sindicato dos Servidores Municipais e Autárquicos de São José do Rio Preto e Região é um patrimônio político riopretense, goste-se disso ou não.

Tal como fazem outras organizações (ACIRP, CDL, Rotary, etc) e também por representar parcela significativa do setor produtivo local (2.367 filiados), o Sindicato dos Servidores há tempos intervém na cena política da cidade; talvez, a diferença entre as organizações se dê porque os servidores fazem isso às claras, declaradamente. E isso incomoda muita gente...

"Fundado em 2/6/1953, sob a denominação de Associação dos Funcionários Públicos Municipais" (ARANTES, 2002, p. 721), o Sindicato dos Servidores permaneceu durante muito tempo subordinado ao controle do poder executivo, à tutela dos prefeitos. Retirá-lo desta situação representou simultaneamente uma vitória e uma conquista não apenas dos servidores, mas de toda a sociedade riopretense. Vencia-se a submissão; conquistava-se a autonomia.

Claro que nem todos pensavam assim, inclusive prefeitos e alguns servidores.

Eis que o tempo passou e hoje o prefeito Edinho Araújo quer porque quer o sindicato "de volta". O circo já estava armado com matérias na imprensa alardeando o tempo de permanência da atual diretoria (nas palavras do Bom Dia: "desde a década de 1990"), etc e tal.

Edinho tornou pública sua disposição em recuperar o antigo patrimônio. Diz matéria-panfleto do Bom Dia (17/10/2007): "O alto escalão do prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo (PPS), tenta se infiltrar na eleição para o sindicato dos servidores municipais, prevista para os dias 8 e 9 [de novembro]". De acordo com o matinal, a "meta do prefeito é colocar nome de sua confiança para o sindicato".

Justificativa? "A atual diretoria do sindicato faz oposição a Edinho"; óbvio. E mais uma: as "eleições no sindicato são marcadas pela falta de concorrência". Todos em defesa da "volta do diálogo com o governo", segundo Marilda Abraão de Araújo, funcionária da Defesa Civil.

Discurso ensaiado, tudo corria dentro dos conformes... até ontem.

"O alto escalão do prefeito Edinho Araújo" esqueceu de ler o estatuto da entidade. Sim! O Sindicato dos Servidores tem um estatuto, autônomo, não regulado pelo executivo, legislativo e judiciário, enfim, um texto elaborado por uma fração da sociedade civil. E se o prefeito quiser retomar o controle da entidade, terá de conhecer antes suas clásulas; elementar.

Além isso, o processo eleitoral obedece procedimentos e critérios definidos por uma Comissão Eleitoral, previamente reconhecida por todos os concorrentes. No último dia 10, a Comissão expediu e tornou pública a "normatização do processo eleitoral" prevista pelo estatuto; portanto, duas semanas antes do encerramento da inscrição das chapas.

Novamente em tom panfletário, acusa o Bom Dia de hoje: "A sucessão da diretoria do sindicato dos servidores de Rio Preto virou caso de polícia ontem. A chapa de oposição à atual diretoria registrou boletim de ocorrência depois de ter negado acesso a documentos pelo grupo que comanda o sindicato e tenta mais uma reeleição"; e por ai vai (Bom Dia, aliás, tem se prestado a cada papel... não há mais "política" na página do jornal na internet).

Surfando na mesma onda ("Sindicato impugna chapa da oposição"), o Diário de hoje ao menos cede a palavra ao presidente da Comissão Eleitoral, Paulo Franco. Para ele as irregularidades cometidas pela chapa de Marilda Abraão de Araújo - funcionária da Defesa Civil que defende a "volta do diálogo com o governo" - são tão "primárias, que qualquer leitura menos atenta do estatuto serviria para orientar e esclarecer". Em resumo, não leram o estatuto.

Ora, mas que "alto escalão" é esse que não se dá ao trabalho sequer de ler estatutos?

Hein, Marilda? Dá para pensar em ser presidente do Sindicato dos Servidores sem conhecer suas normas?

Longe de ser um caso de polícia (título do panfleto no Bom Dia: "Sucessão no sindicato dos servidores pára na polícia"), o episódio é digno de risos, motivo de chacota; uma piada.