ZEZINHO E EDINHO


Impossível não comentar a enquete – ou “pegadinha”? – realizada com os vereadores de Rio Preto, publicada no
Diário de ontem: “O que os vereadores (não) sabem”.

Pretendendo checar “o grau de identificação dos parlamentares com seus partidos”, o jornal perguntou a 15 dos 17 vereadores riopretenses:

- “O que significa a sigla do seu partido?”;
- “Qual o nome do presidente estadual e do nacional?”;
- “Qual a ideologia do seu partido (esquerda, direita ou centro)?”;
- “Seu partido é aliado ao governo José Serra no Estado e ao governo Lula na esfera federal?”.

De acordo com a matéria, apenas “João Paulo Rillo (PT), Dourival Lemes (PMDB), Oscarzinho Pimentel (PPS) e Pedro Roberto (Psol) acertaram todas as perguntas”. Os vereadores Adney Secches e Nilson Silva foram dispensados da consulta, “pois estão sem partido”.

Considerando a atuação dos demais [1], a de Zezinho de Oliveira merece destaque.

Filiado ao PPS (Partido Popular Socialista) - mesmo partido do prefeito Edinho Araújo -, Zezinho compõe a chamada “bancada evangélica” instalada na Câmara Municipal, embora tenha sido recentemente preterido numa prévia realizada pela igreja Quadrangular para definir qual candidato receberá o apoio dos fiéis na eleição do ano que vem [2].

Na enquete publicada ontem, Oliveira saiu-se assim:

- Nome do Partido: “Partido Popular Social”;
- Presidente Estadual: “Sinceramente, não sei”;
- Presidente Nacional: “Esqueci o nome dele. Nunca veio aqui no partido nas nossas reuniões. Nem sei o nome dele...”;
- Ideologia do Partido: “Não posso falar nada. Não sei se ele é da esquerda ou da direita”;
- Posição do Partido em relação ao governo Serra (PSDB): “Não sei de nada”;
- Posição do Partido em relação ao governo Lula (PT): “Não me envolvo muito com política. Então não tenho interesse em saber quem é aliado para cá ou para lá. Procuro atender a cidade e região”.

Segundo o jornal, “Zezinho de Oliveira admite que não sabe nada sobre o PPS pois se filiou recentemente ao partido por ‘amizade’”. Nas palavras de Oliveira: “Procuro um partido para me reeleger. Existe em todos os partidos a preocupação com coeficiente eleitoral” – e com a “posse” do mandato, diga-se [3].

E tinha mais. No final da matéria, surgiu então Edinho Araújo, posando de guardião da moral e dos bons costumes políticos-partidários. Chamado a comentar o resultado final da enquete, Edinho disse:

- “Ninguém pode ter visão estreita”;
- “Acho que as pessoas para se filiarem tem de ter o mínimo de conhecimento e o partido conhecer o histórico das pessoas. E as pessoas conhecerem o programa do partido”;
- “Isso [políticos que procuram as legendas apenas para satisfazer seu desejo eleitoral] não faz bem para os partidos e para as pessoas. Tem de ter uma dose de idealismo, de convicção partidária, de conhecimento da doutrina”;
- “Essa situação tem de ser compartilhada por todos. Nunca cooptei ninguém para ingressar no partido. Não saio buscando pessoas de forma aleatória. Ninguém pode ter visão estreita”.

Mera retórica; aliás, a própria reportagem fez questão de lembrar que o prefeito “trocou o PMDB pelo PPS só para poder disputar a Prefeitura de Rio Preto em 2000”.

A propósito, não custa relembrar aqui outra manchete recente: “Edinho enquadra PPS e diz que não tem de pedir licença”; acerca do “namoro” do alcaide com os deputados Vaz de Lima (PSDB) e Garcia (DEM, ex-PFL) [4].

Edinho não é mesmo nenhuma referência quando se trata de fidelidade partidária. Basta ler a declaração de Roberto Freire, presidente nacional do PPS, comentando o apoio do prefeito ao presidente Lula nas eleições de 2006: “Edinho ‘constrange’ e deve abandonar PPS” [5].

Portanto, Zezinho e Edinho revelam ao seu modo e em tons gritantes o nível de despolitização dos políticos, indicando – de modo monográfico e específico - o avançado estágio de putrefação do sistema político e partidário vigente no país.

São como duas faces de uma mesma moeda.


NOTAS

[1] Algumas pérolas pronunciadas pelos vereadores quanto ao posicionamento ideológico de seus respectivos partidos: “Na verdade, o partido no município ficaria ai como partido de centro. Essa é a ideologia do partido em relação ao nosso mundo político. Essa é a filosofia”, Gerson Furquim - PSL (Partido Social Liberal); “Se for no Estado é de direita. Se for a nível federal hoje ele é oposição, de esquerda...”, Dinho Alahmar - antigo PFL (Partido da Frente Liberal)/atual DEM (Democratas); “Particularmente depende da área. No Estado de São Paulo está mais [à] esquerda por causa do louco do Maluf”, José Carlos Marinho – PP (Partido Progressista). In. DIÁRIO DA REGIÃO. O que os vereadores (não) sabem (23/9/2007). Disponível em:
Diarioweb. Acesso em: 24 set. 2007.

[2] Diz o Diário de 15 de agosto: “Oliveira foi derrotado na prévia realizada pela instituição religiosa na última segunda-feira e se comprometeu a apoiar o pastor Jabis Busqueti e o vereador Jair Afonso (PMDB)... Oliveira recebeu apoio de apenas 12 pastores. Busqueti, que é genro do pastor superintendente da Quadrangular, Carlos Roberto da Silva, teve o apoio de 30 pastores e Afonso de outros 25 líderes da igreja. Só os primeiros colocados na prévia receberão o apoio oficial da instituição que influenciará seus fiéis a votar nos dois indicados” In DIÁRIO DA REGIÃO. PPS diz que Zezinho vai ser candidato à reeleição (15/8/2007). Disponível em:
Diarioweb. Acesso em: 24 set. 2007.

[3] Recém-chegado ao PPS, Zezinho teve cuidado ao sair do PFL, partido pelo qual se elegeu em 2004. Segundo palavras do coordenador regional da sigla, Moacir Serodio, o “Zezinho (de Oliveira) me procurou e perguntou se haveria alguma represália contra ele caso deixasse o DEM [ex-PFL]. Ele queria saber se o partido pediria na Justiça o mandato dele”. In. DIÁRIO DA REGIÃO. PFL oficializa mudança e perde 2 vereadores (20/7/2007). Disponível em:
Diarioweb. Acesso em: 24 set. 2007.

[4] “... após o desfile em comemoração a independência de 7 de setembro, o prefeito reagiu às críticas feitas por integrantes da legenda em relação a sua aproximação política com ex-adversários políticos, como o presidente da Assembléia Legislativa, Vaz de Lima (PSDB), e do deputado estadual Rodrigo Garcia (DEM). Edinho disse que não vai pedir aval do PPS para conversas com outros caciques políticos na cidade...”. In. DIÁRIO DA REGIÃO. Edinho enquadra PPS e diz que não tem de pedir licença (8/9/2007). Disponível em:
Diarioweb. Acesso em: 24 set. 2007.

[5] “Não estou preocupado com o que o diretório estadual disse. Eu digo que ele (Edinho) nos constrange na qualidade de militante do PPS. Não estou pedindo a sua expulsão. Pelo contrário, gostaria que ele (Edinho) pedisse para sair”, teria dito o presidente nacional do PPS; vale lembrar, o partido de Freire apoiou Geraldo Alckmin (PSDB) desde o 1° turno. In. DIÁRIO DA REGIÃO. Freire: Edinho ‘constrange’ e deve abandonar PPS (17/10/2007). Disponível em:
Diarioweb. Acesso em: 24 set. 2007.