QUANDO MANIPULADOS, OS NÚMEROS MENTEM SIM!


O Diário (somente para assinantes) de 6ª trouxe na capa a seguinte manchete: "Crise espanta filiados e encolhe PT de Rio Preto". Segundo apurou o jornal, "PT foi quem mais perdeu filiados em Rio Preto no último ano, com 325 baixas".

Ao longo do texto, é nítida a intenção da matéria em veicular a idéia de que a "debandada de filiados do PT de Rio Preto coincide com o período pós-mensalão, escândalo que afastou as principais lideranças do partido e assessores diretos do presidente Lula, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o próprio ex-presidente da legenda, José Genoíno".

Nem mesmo as declarações do presidente do PT-Rio Preto, Ailton Bertoni, parecem ter convecido o jornal.

Bertoni mencionou o recadastramento promovido pelo PT - que excluiu os militantes com dupla filiação e aqueles que morreram - e lembrou que, desde "a saída do Cacau Lopes (ex-secretário de Saúde) e da Maureen Cury (ex-vice-prefeita e atual secretária de Política para Mulheres)", o partido não promove "uma campanha de filiação".

Mas o Diário insistia: "No País, petistas crescem"; mencionando que, "apesar de ser o líder de baixas de filiados em Rio Preto, os petistas comemoram o crescimento nacional do partido". De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), "de outubro de 2002 a outubro de 2006, o PT ganhou 218.417 novos filiados, e atingiu a casa dos 1.047.198 eleitores filiados", diz a reportagem.

Além de absurda - porque desprovida de contextualização -, a comparação entre os números do PT-Rio Preto e os do partido no país atesta a fragilidade do argumento da reportagem: "Crise espanta filiados e encolhe PT de Rio Preto".


Ora, se o mensalão não foi capaz de abalar nacionalmente o partido, apenas os riopretenses teriam fugido à regra? Estranho.

A "descrença" em relação à política - aos políticos e partidos - não vem de hoje e as crises recentes apenas fizeram agravar o problema. Contudo, o "encolhimento" do PT-Rio Preto pode apresentar outras razões, diferentes da pretendida pelo jornal.

Fundado no início dos anos 80, o PT sempre dispôs de modesto capital eleitoral na cidade.


Para se ter idéia, somente em 1989 o partido teve seu 1° vereador, com a filiação de Eduardo Nicolau, eleito pelo PMDB em 1988. Em 19992, elegeu Marco Rillo e Lima Bueno. Quatro anos depois, Cacau Lopes e Eni Fernandes.

Mas foi em 2000 que o PT registrou seu maior crescimento: elegeu 4 vereadores (Lopes, Fernandes, Rillo e o novato Márcio Ladeia), conquistou a vice-prefeitura (Maureen Cury) e, a partir de 2001, ocupou secretarias e outros postos no 1° governo de Edinho Araújo (2001-2004).

De fato, a aliança com Edinho proporciou ao partido um crescimento jamais visto e, em boa medida, inesperado. Da noite para o dia, o PT saltou da marginalidade ao protagonismo na arena política local.

Logo, os oportunistas de plantão "incharam" os quadros do partido, todos interessados numa "boquinha" (gritou-se mesmo à época que o PT era o "partido da boquinha"). Com uma direção acéfala, os petistas presenciaram então um crescimento sem qualquer substância, com adesões meramente circunstanciais, superficiais.

Os números diziam que o partido havia crescido, porém, a realidade dos fatos demonstrou que os números estavam errados.

Entre 2001 e 2004, o PT deixou de crescer para onde deveria - leia-se sociedade - para confinar legítimos sanguessugas. Resultado: rompida a aliança, em 2004, a saída de neo-petistas e antigas estrelas fizeram lembrar a máxima do velho Marx, "tudo que é sólido desmancha no ar".

Como fazem os ratos, abandoraram o suposto naufrágio. E veja, era julho de 2004, muito antes de mensalão e etc.

Portanto, o Diário erra grosseiramente ao desconsiderar as declarações de Bertoni, inclusive quando este menciona indiretamente o impacto causado pelo rompimento da aliança com Edinho nas fileiras do partido.

Do mesmo modo, o jornalista Alexandre Gama se engana ao afirmar em sua coluna que os "números não mentem". Está provado que, quando manipulados, os múmeros mentem sim.

Ao invés de pretender uma interpretação distorcida do fato, o jornal deveria primar seu trabalho pela busca incessante da verdade. Assim, por que não checar quantos dos 1.088 filiados ao PPS, por exemplo, estão vivos? Ou mesmo, quantos sabem que são filiados ao partido?

Afinal, com diz a sabedoria popular, "pau que bate Chico também bate em Francisco"... Ou não?

Quanto aos petistas riopretenses, fica o alerta. Ainda que as razões expostas acima clareiem a leitura sobre seu "encolhimento", convém reconhecer que a situação não vai lá muito bem...

Ou o PT se mostra efetivamente transformador, aberto à sociedade, ou o desejo - de tantos - de vê-lo encolher se tornará, enfim, realidade.

Fonte: Diário da Região (2/3/2007, p. 3A).