QUEREM ACABAR COM O CARNAVAL POPULAR EM RIO PRETO
Passada a euforia, restam as cinzas... Esse sentimento é comum aos foliões.
Mas em Rio Preto não houve folia...
Aqui as cinzas ultrapassam o sentido figurado e traduzem a situação calamitosa em que se encontra o Carnaval popular da cidade, conforme constatou o Bom Dia de ontem: "Contratempos de desfile revelam fragilidade do Carnaval de rua".
De acordo com a reportagem, o "desfile de blocos e escolas de samba na avenida João Batista Vetorazzo, na noite de domingo, foi marcado por problemas". A 1ª escola entrou na avenida somente às 23h.
Na verdade, uma tragédia anunciada (ver post de 30/1).
No fundo, o latente descompromisso do poder público com aquela que deveria ser a maior festa popular da cidade evidencia, mais uma vez, o teor da opção política de Edinho Araújo (PPS).
Porém, a versão do Bom Dia foi outra, bem diferente (coincidência ou não, a matéria de ontem foi saudada pela Comissão Organizadora do Carnaval no Bom Dia de hoje).
Além dos blocos (invariavelmente compostos por burocratas e profissionais ligados e/ou próximos ao poder público, incluindo a tchurminha do Mercadão), apenas 2 escolas desfilaram no domingo: Unidos da Boa Vista e Império do Sol.
Para a reportagem , a Império era a principal responsável pelos "contratempos" do desfile, fato que revelava, por si, "a fragilidade da Carnaval de rua": "Depois do atraso de 45 minutos para o início, a escola de samba Império do Sol apresentou falhas técnicas e não pôde desfilar no horário previsto."
Segundo apurou o jornal, o "caminhão com as fantasias deveria ter chegado às 20h, mas até ontem à tarde não havia sido localizado".
E para completar, Vicente Serroni, presidente da Império, ainda afirmou ao Bom Dia: "Dos seis carros que fizemos, apenas a metade se apresentou. A bateria ficou de fora, porque parte dos integrantes era de Mirassol e precisou ir embora cedo”.
Pronto, o fato estava construído. Afinal, como era possível tamanha desorganização numa agremiação subsidiada com dinheiro público?
Para a pergunta, implícita no texto, muitas respostas e possibilidades foram coletadas pela matéria.
Dentre opinões e fórmulas mirabolantes, se destaca a sentença elitista de Humberto Sinibaldi Neto: "O Carnaval de rua de Rio Preto acabou faz tempo. Não adianta gastar dinheiro". Para Sinibaldi, "se não há organização, o evento deve ser extinto".
Em toda matéria, nenhuma menção à responsabilidade do poder público no caso, em particular, da secretaria de Cultura do município.
É inacreditável o cinismo dessa turma. Como se a culpa fosse das escolas, ora com a"falta de líderes", ora com sua inaptidão empresarial.
A questãó é outra, histórica: Carnaval de verdade em Rio Preto se restringe à elite e seus contornos, nada que ultrapasse os R$ 50,00 de uma noite no Palestra EC. Para o restante da população, migalhas, ou melhor, confetes...
Desde os anos 20 é assim, sem mudanças substanciais aparentes (ver: TONELLO, 2006).
Coitadas... As escolas de samba viveram talvez seu melhor período durante os governos do PMDB nos anos 80 e início da década de 1990. De lá para cá, todas elas perderam poder de mobilização e, sem uma política pública específica, minguaram.
Hoje, de fato, as escolas sobrevivem do repasse da prefeitura, que, a cada ano, reduz o montante destinado. Tal como "círculo vicioso", lembra Fernando Marques, "em que cada vez se produz menos".
Por isso, duas saídas: privatização (com trios elétricos e a "importação" do "axé-music") ou a extinção.
Nada disso. Para que haja Carnaval popular é preciso, antes, fomentar seus agentes.
As escolas de samba devem exercer a função de grêmios recreativos e, para tanto, exigem uma presença qualificada e interessada do poder público. Exatamente o que não se vê até o momento.
Aliás, tamanha omissão se reflete até no comportamento do secretário de Cultura, Pedro Ganga, nunca encontrado "para comentar o assunto", conforme atesta o Bom Dia de hoje.
Portanto, é bom não esperar de Ganga e Edinho qualquer solução para o Carnaval de rua na cidade. O primeiro não se sabe nunca onde está. O segundo sempre se soube onde está.
Do jeito que as coisas vão, logo o Carnaval será mesmo extinto e a verba destinada integralmente às Igrejas, como já sugeriu um iluminado...
Em tempo: uma pergunta aos defensores da extinção do Carnaval de rua: por que não começam tentando convencer os mais de 6.000 espectadores que o Carnaval popular deve acabar? Brava gente! Mesmo com tanto esforço contrário da prefeitura, toda essa gente insistiu em brincar o Carnaval e compareceu à avenida no domingo. Imagine se a festa fosse levada à sério pela prefeitura...